sexta-feira, 18 de julho de 2008

só mais um adeus debaixo do sol

Quando o meu celular tocou, eu já estava descendo a rua, num ritmo não muito acelerado, ouvia a musica que se cantava na igreja próxima, era uma musica lenta, não lembro a letra, mas dizia algo triste.
- Alô!
Era Sabrina, a amiga com quem eu havia combinado de encontrar, eu estava atrasado, e ela me ligou para perguntar se eu não iria. Perguntou em um tom não muito contente.
Depois de ouvir algumas coisas sobre como sou tratante e como costumo fazer isso eu responde que já estava próximo do lugar combinado, e realmente estava.
Quando cheguei, ela então me deu o abraço de praxe, fez a cara de brava e me perguntou porque eu havia me atrasado tanto
- Meu avô acabou de morrer! – de súbito ela mudou a expressão – acabei de saber, meu pai e minha mãe estão indo pra lá agora.
Ela não sabia o que me dizer, por alguma razão ela achava que precisava me dizer algo, uma palavra de ânimo ou algo do tipo.
Foi então que me veio a mente: Por que as pessoas sempre tem modelos de como se deve agir em determinadas situações? Por que não podemos apenas ser sinceros, porque ela deveria me dizer algo além do que ela sentia? Meu avô acabara de morrer, e eu estava no meio da avenida conversando com uma amiga sobre coisas da vida, sim estava, e por que não deveria? Acaso eu deveria estar com meus pais junto ao corpo desfalecido? Optei por ser sincero com o que sentia, e no momento não era chorar ou parecer triste com a noticia. Não pense que sou frio, apenas não me sentia triste o suficiente para derramar lágrimas, mas eu estava triste.
A morte do meu avô era uma morte anunciada, há mais de duas semanas sabíamos que não restavam esperanças para ele, a morte já lhe era certa, bem mais que nos outros dias de sua vida. Na verdade ele não sabia que já estava desenganado por um médico, mas seus instintos tinham lhe revelado, por que, ele já havia desistido de viver. Não o julgo, talvez esse seja um sentimento bem comum quando se tem 95 anos, os dois pulmões comprometidos pelo vicio do cigarro, uma infecção intestinal e falta de oxigenação no cérebro. O fato é que para ele a vida já não era mais interessante, e esse sentimento estava bem visível, todos os filhos e parentes já estavam comovidos com a situação- deve ser muito ruim querer viver quando se está próximo da morte, mas deve ser bem pior querer morrer e não conseguir – todos nós já esperávamos o dia, o telefonema ou a cena da morte dele, e finalmente o dia chegou.
Talvez por ele desejar tanto a morte é que não estamos tão tristes, afinal, ele conseguiu o que queria.

Um comentário:

Marisa Queiroz disse...

Puxa!!
É realmente incrível como as pessoas sempre têm algo prontinho, ensaiado e padronizado pra maioria das coisas que acontecem..seria melhor mesmo se td mundo simplesmente agisse como se sente ne?
Mt interessante...Só ficou uma dúvida... É uma história real?
Parece bem real..
Bjao Fábio!!!